O InfoAmazonia encerra neste mês de dezembro a primeira
fase de seu projeto de construir sensores open
source. A iniciativa, premiada no Google Impact Challenge Brazil
2014, previa a formação de uma rede independente de monitoramento da qualidade
d’água para comunidades urbanas e ribeirinhas da Amazônia.
Equipamento instalado no Projeto Saúde e Alegria, em Santarém –
Pará.
No início de 2014, ao pesquisar
iniciativas que realizam monitoramento ambiental comunitário, identificamos
diversas iniciativas para coletar dados e analisar a qualidade do ar, como o Smart Citizen Kit, DustDuino,
e Air Quality Egg.
A única que encontramos focada em monitoramento da qualidade da água foi o Riffle, o
que nos estimulou a planejar uma iniciativa com objetivo semelhante, e se
tornou inspiração o ponto de partida para o projeto Rede InfoAmazonia.
No primeiro semestre daquele
ano realizamos pesquisas preliminares e nos reunimos com especialistas em qualidade
da água no Brasil e EUA, para entender o que precisaríamos desenvolver para
monitorar a qualidade de vida das populações ribeirinhas da Amazônia. Nos
inscrevemos e fomos premiados no Google Impact Challenge Brazil, que viabilizou
financeiramente o projeto.
Em julho iniciamos oficialmente
sua execução. É importante destacar que o envolvimento do Google foi além do
investimento financeiro para o desenvolvimento do equipamento e criação da
rede. Durante a execução do Rede InfoAmazonia, contamos com o apoio estratégico
de funcionários da empresa e de duas consultorias contratadas por ela, a Sitawi e
a Cria Global.
Já no primeiro semestre do
projeto, em 5 de setembro de 2014, organizamos uma hackatona sobre
monitoramento de qualidade da água, onde abordamos questões como dados públicos
e desenvolvimento de hardware open source. Nosso objetivo foi fazer um
mapeamento de indivíduos interessados no assunto, bem como aprender com eles. Do
evento, saiu o Visaguas, aplicativo que apresenta dados sobre qualidade da água na Amazônia,
uma visualização dos dados que analisamos e nos ajudaram a concluir que a
região de Santarém seria a melhor para implantação do projeto.
No final desse ano realizamos
nossa primeira visita a Santarém, com reuniões com o Projeto Saúde
e Alegria (PSA), bem como com as secretarias de Meio Ambiente
de Santarém e Belterra. Em março de 2015, a equipe realizou a segunda missão na
região, com o objetivo de dar subsídio à população para entender o contexto do
Rede InfoAmazonia. Com a mobilização do PSA e das Secretarias de Meio Ambiente, realizamos oficinas sobre “monitoramento de
qualidade da água e jornalismo cidadão” para lideranças de sete comunidades
ribeirinhas de Santarém, seis na bacia do Amazonas (Pixuna do Tapará, Nova
Vista do Ituqui, São José do Ituqui, Pixuna do Tapará, Igarapé da Praia e
Castela) e uma do Tapajós (Alter do Chão). Nesta viagem, iniciamos uma parceria
com o Laboratório de
Mídias Eletrônicas da Universidade Federal do Oeste do Pará
(UFOPA).
Durante todo esse período,
paralelamente às atividades de engajamento, e durante o ano de 2015, realizamos
pesquisa e benchmark de outras iniciativas (especialmente o Waspmote Plug & Sense! Smart Water).
A criação, desenvolvimento e testes de protótipos do hardware foram realizados
em parceria com a Dev Tecnologia. O dispositivo foi finalmente
batizado de Mãe d´Água. Nós também desenvolvemos
uma plataforma online que recebeu e mostrou dados coletados pelos dispositivos.
Site do projeto Rede InfoAmazonia com dados recebidos em tempo
real de comunidades e residências do rio Tapajós
Em outubro, realizamos um ciclo
de oficinas para formação e promoção do engajamento de voluntários. Realizamos
uma formação básica em eletrônica para atrair potenciais interessados
tecnologias livres, e em seguida realizamos a apresentação técnica do Mãe d´Água e do funcionamento do
equipamento. Coletivamente conseguimos antecipar desafios que seriam impostos
no processo de instalação. Também oferecemos uma oficina de jornalismo cidadão
para sensibilizar os participantes sobre a importância de utilizar métodos
jornalísticos para produção e distribuição de conteúdo.
Dando continuidade à esta
terceira missão, realizamos a implantação de equipamentos de monitoramento em 18 pontos,
nas cidades de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos. Como parte do processo de
apropriação do conhecimento, a instalação foi realizada pelas próprias
comunidades sob orientação da equipe do Rede InfoAmazonia. Nesta jornada,
produzimos um vídeo para difundir a
iniciativa.
Membros da comunidade de São Domingos na instalação de um Mãe
d'Água.
A partir da instalação dos
equipamentos nos reservatórios de água na região de Santarém, passamos a
acompanhar os dados coletados pelos sensores através do site do projeto.
Claramente, os dados coletados remotamente não eram compatíveis com as análises
realizadas em laboratório, o que indicou que é necessário mais tempo dedicado a
testes de bancada e de campo, a fim de aumentar a confiabilidade dos dados
coletados, para que o equipamento possa ser produzido em larga escala.
Durante todo o período do Rede
InfoAmazonia, participamos em diversos eventos, apresentando o projeto e
aprendendo com iniciativas semelhantes. Entre eles estão o 1° Encontro da Rede
Internacional de Monitoramento e Manejo Participativo e do Seminário Internacional
de Monitoramento Participativo para o Manejo da Biodiversidade e dos Recursos
Naturais Renováveis (SINPAR 2014), em Manaus; o VI Encontro Latino-Americano de Gestão Comunitária da Água em
Olmué, Chile; e o Barnraising,
organizado pelo Public Lab, em Nova Orleans, EUA. Nesse último, durante uma
mesa-redonda sobre equipamentos de monitoramento de qualidade de água, houve um
consenso que o Mãe d’Água é o mais completo equipamento open source a realizar essa
função.
O período final do projeto
apoiado pelo Google foi dedicado a garantir o aproveitamento do legado do Rede
InfoAmazonia. Firmamos uma parceria com
os institutos de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA)
e de Engenharia e
Geociências (IEG) da UFOPA, com foco na transmissão de
conhecimento e dos equipamentos de monitoramento para que a tecnologia seja
incorporada aos seus projetos de pesquisa.
A facilidade de troca e a
disponibilização de informação também atraiu pesquisadores do Instituto Federal do Pará (IFPA),
da Indonesia
Speleological Society, e de outras instituições interessadas em
explorar o Mãe d’Água. Entusiastas de vários lugares do mundo estão utilizando
e ampliando o conhecimento e tecnologia produzidos nesses dois anos.
Uma
vez que a confiabilidade dos dados coletados pelo equipamento seja
suficientemente alta, ele poderá ser produzido em escala para atender
comunidades em todo o mundo, principalmente àquelas que utilizam fontes
alternativas de abastecimento de água.
Acreditamos
que nossa contribuição neste período foi demonstrar as possibilidades de
utilização de hardware livre e ciência cidadã para cobrir lacunas de informação
sobre questões socioambientais. Nossa principal percepção para iniciar o
projeto – a de que os habitantes das cidades amazônicas sofrem com um problema
hoje invisível – ainda serve de motivação para seguir em frente.
Se quiser se manter saber mais detalhes sobre o Rede InfoAmazonia
e seu equipamento, acesse a plataforma online de coleta e
visualização dos dados. Se quiser se manter informado sobre o projeto e
acompanhar notícias relacionadas, participe do grupo no Facebook.
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